Bhte, terça-feira, 21/05/2025 às 11h19 - primeira-edição
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Bhte, 21 de maio de 2025, às 11h09
Esquizofrenia atinge 1% da população brasileira;
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Maio, 2025 – Delírios, alucinações, desorganização do pensamento e do comportamento, distanciamento social, agitação, comprometimento do juízo da realidade, empobrecimento psíquico, desleixo pessoal, redução da vontade própria e da capacidade de agir com objetividade: esses são alguns dos principais sintomas da esquizofrenia — transtorno mental grave que afeta, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 25 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo a terceira principal causa de perda de qualidade de vida entre os 15 e 44 anos.
No Brasil, estima-se que cerca de 2 milhões de pessoas convivam com o transtorno — cerca de 1% da população. Segundo o Departamento de Pós-Graduação da FG Faculdade Global (POSFG), cerca de 68% delas não recebem tratamento adequado, o que agrava ainda mais os impactos da doença sobre os indivíduos e suas famílias.
Os dados ganham ainda mais relevância neste sábado (24), data instituída em 2024 como o Dia Nacional de Conscientização sobre a Esquizofrenia, com o objetivo de combater estigmas, ampliar o conhecimento da população e estimular a empatia.
O psiquiatra Fernando Tomita, do Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP), explica que a doença é a forma mais representativa das psicoses, com causas ainda não totalmente compreendidas, e que costuma se manifestar no início da vida adulta, geralmente entre os 20 e 30 anos. “A esquizofrenia é uma doença que provoca uma ruptura com a realidade. Por isso, ainda carrega o estigma da ‘loucura’. Isso pode gerar graves consequências na vida do paciente, como comprometimento no juízo crítico e no senso prático, na capacidade de trabalho, na responsabilidade civil e penal, e impactos severos também para a família e a sociedade.”.
Segundo o médico, é essencial que familiares e pessoas próximas fiquem atentos a sinais como mudanças de comportamento, isolamento, agressividade e sintomas psicóticos, como delírios e alucinações. “O delírio é uma alteração do pensamento, uma crença falsa e inflexível — como acreditar que está sendo perseguido, vigiado, zombado, ou que possui poderes especiais. A alucinação, por sua vez, é uma distorção da percepção. A mais comum é a auditiva, quando o paciente escuta vozes, comentários ou ruídos que não existem”, explica.
Embora seja uma doença crônica e sem cura, há medicações capazes de controlar os chamados “sintomas positivos” (como delírios e alucinações) e sintomas negativos (a apatia, o isolamento, o negativismo). “As medicações mais modernas têm menos efeitos colaterais, o que facilita a adesão ao tratamento”, destaca Tomita. No entanto, a aceitação do tratamento ainda é um desafio, em razão da dificuldade que muitos pacientes têm em reconhecer a própria condição.
O especialista também destaca a importância de desconstruir mitos. “Um dos mais prejudiciais é a ideia de que pessoas com esquizofrenia são violentas. Isso não é verdade. Embora alguns casos com grande repercussão midiática reforcem essa associação, a maioria dos atos violentos é cometida por pessoas que não têm transtornos mentais.”
De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), da OMS, a esquizofrenia pode se manifestar de diferentes formas, com variações nos sintomas e na maneira como a doença evolui ao longo do tempo. O diagnóstico é feito com base na observação clínica, ou seja, a partir do comportamento ao longo do tempo. A gravidade dos sintomas, a resposta ao tratamento, o uso de substâncias e a presença de outras doenças também influenciam nos prejuízos da doença e nas chances de melhora.
O tratamento é feito com o uso de medicamentos antipsicóticos, inclusive com a possibilidade de medicações injetáveis de longa duração, que podem ter efeito por até três meses. “O tratamento não deve se restringir aos remédios. A abordagem psicossocial envolvendo o próprio paciente, a família e a rede de apoio. Psicoterapia, terapias ocupacionais e a orientação familiar fazem toda a diferença na qualidade de vida e na adesão ao tratamento”, conclui Tomita.
Bhte, 28/09/2021 Um olhar atento para a Síndrome de Burnout Mônia Bresolin, psiquiatra e psicogeriatra que integra o corpo clínico do Hospital de Joinville (SC). A síndrome de burnout (SB) é uma condição que pode se desenvolver em resposta a estressores constantes e prolongados no ambiente de trabalho. Engloba três dimensões: exaustão (sentimentos de falta de energia, esgotamento e fadiga crônica resultantes de demanda excessiva de trabalho e do estresse), despersonalização (sentimento de negativismo, sarcasmo e cinismo/descaso relacionados ao trabalho e distanciamento mental do trabalho; atitude apática ou desapegada em relação aos colegas e às atividades relacionadas ao trabalho) e redução da realização profissional (sentimentos de inadequação e baixa autoestima, decorrentes da crença de que os objetivos profissionais não foram alcançados, levando à perda de interesse e perda do significado do trabalho). Fatores ambientais, suporte social, ocorrência de transtornos psiquiátricos e características de personalidade interferem na resposta a eventos estressantes de forma adaptativa ou não; logo, podem ser fatores protetivos ou representar riscos para o desenvolvimento da SB. Uma estimativa precisa da prevalência de burnout teria implicações importantes nas políticas de saúde, mas a prevalência geral ainda é desconhecida. Estima-se que em profissionais nas quais há contato interpessoal contínuo e envolvimento emocional intenso, como profissionais da saúde, da segurança e da educação, as taxas de SB possam ser especialmente elevadas. Os fatores que podem aumentar o risco para o desenvolvimento da SB são internos e externos. Os fatores internos são: altas expectativas (idealistas de si), alta ambição, perfeccionismo; forte necessidade de reconhecimento; necessidade de agradar as outras pessoas, suprimindo as próprias necessidades; dificuldade em delegar tarefas; sobrecarga de trabalho e negligência das próprias necessidades; trabalho como única atividade significativa, trabalho como substituto da vida social; altos índices de neuroticismo (instabilidade emocional) e baixos níveis de abertura à experiência (inflexibilidade); presença de doenças crônicas e de transtornos psiquiátricos, sexo feminino, uso de medicação e insatisfação com a carreira. Já os fatores externos compreendem fatores institucionais, alta demanda de trabalho, problemas de liderança e colaboração, instruções contraditórias, pressão do tempo; má atmosfera no trabalho, assédio moral; falta de liberdade para tomar decisões; falta de influência na organização do trabalho; poucas oportunidades para participar; baixa autonomia/direito de contribuir com opiniões; problemas de hierarquia; má comunicação interna (empregadores, funcionários); restrições administrativas; pressão de superiores por aumento de responsabilidade; má organização de trabalho; falta de recursos (pessoal, financeiro); regras e estruturas institucionais problemáticas; falta de oportunidades percebidas de promoção; falta de clareza sobre papéis; falta de feedback positivo; mau trabalho em equipe; e ausência de apoio social. As consequências para o bem-estar e a saúde dos trabalhadores são variadas. Diversos estudos prospectivos e de alta qualidade mostram consequências físicas, psicológicas e ocupacionais do burnout do trabalho. Ela pode ser um preditor significativo das seguintes consequências físicas: hipercolesterolemia, diabetes tipo 2, doença cardíaca coronariana, internação por transtorno cardiovascular, dor musculoesquelética, alterações nas experiências de dor, fadiga prolongada, dores de cabeça, problemas gastrointestinais, problemas respiratórios, lesões graves e mortalidade abaixo dos 45 anos. Os efeitos psicológicos podem ser insônia, sintomas depressivos, uso de psicotrópicos (psicofármacos) e antidepressivos, insatisfação no emprego, absenteísmo, precoce aposentadoria por invalidez, demandas negativas no emprego e recursos humanos e presenteísmo (ação de estar presente no local de trabalho, exercendo suas funções habituais, geralmente mais horas do que o suposto e de maneira improdutiva). Dentre outros desfechos relacionados à SB, podem-se citar: redução na qualidade do trabalho realizado; maiores taxas de condutas equivocadas e negligência; abuso e dependência de álcool e drogas, suicídio. Antes de se fechar um diagnóstico de SB, é preciso verificar a possibilidade de outra condição que possa estar gerando os sintomas, por exemplo, transtornos depressivos e bipolares; transtorno de ansiedade; transtorno de adaptação; transtornos de personalidade; além de condições médicas associadas a sintomas de fadiga e cansaço. Os impactos individuais e sociais do burnout destacam a necessidade de intervenções preventivas e identificação precoce dessa condição de saúde no ambiente de trabalho. É importante destacar que alguns sintomas de SB parecem se assemelhar aos da depressão e da ansiedade. Para o tratamento considera-se tratar os transtornos mentais concomitantes; psicoterapia (reestruturação cognitiva, resolução de conflitos, gerenciamento do tempo, desenvolvimento de habilidades de enfrentamento, reorientação profissional); e intervenções focadas no bem-estar e na resiliência (técnicas de relaxamento, mindfulness, desenvolvimento de redes de apoio social, exercício físico). Tanto estratégias individuais quanto estruturais ou organizacionais podem resultar em reduções clinicamente significativas no burnout entre os trabalhadores. Soluções individuais e institucionais proporcionam melhorias ainda maiores no bem-estar do trabalhador do que aquelas alcançadas com soluções individuais. _________________________________________________________ Bhte, 05/03/2021
Psiquiatriasetembro, 03,2019
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