A médica obstetra e ginecologista Patrícia da Cunha Alarcão, coordenadora da área médica da ONG Doutores da Amazônia, conta que foi angustiante saber que não seria possível ir até as aldeias para prestar atendimento. “O risco de contágio é muito alto, os índios estão com medo da pandemia, mas precisam de atendimento e de orientações. Várias lideranças dos povos indígenas passaram a solicitar o atendimento remoto”, revela.
Patrícia Alarcão, coordenadora da área médica da ONG, em um atendimento
na Amazônia. Foto arquivo pessoal.
Tanto Caio Machado como Patrícia Alarcão mencionam a dificuldade de acesso à internet nas aldeias, mas pontuam que mesmo com essa dificuldade o atendimento ainda é possível em muitas regiões.
“Em muitas aldeias, para chegar até um hospital, leva-se até 20 horas de barco. Por isso, a consulta com um especialista, mesmo que por internet vai ajudar muito”, pontua Machado. E, isso por duas razões: a primeira é que, ao possibilitar o atendimento remoto evita-se colocar os povos indígenas em contato com o vírus, garantindo o isolamento social necessário. O segundo ponto é que pequenas enfermidades ou doenças crônicas podem ser acompanhadas com mais rapidez e maior conforto para os pacientes.
Para Patrícia, o melhor da plataforma é que não será somente um atendimento pontual. “A possibilidade de ter um prontuário digital, com todo o histórico do paciente e até mesmo a possibilidade de prescrição de remédios e exames, oferecem um atendimento mais completo, o que não poderia ocorrer por telefone, por exemplo”, complementa.
Celso Suruí, chefe indígena.
Foto arquivo pessoal
O chefe indígena Celso Suruí afirmou que tem uma expectativa muito grande com relação ao atendimento. “Aqui temos muitos pacientes com doenças crônicas, que precisam ser acompanhados. Muitas vezes, no SUS da região, demoramos até sete meses para conseguir marcar uma consulta com um especialista. Com o atendimento online, isso vai facilitar. Nós, povos indígenas, precisamos disso e sabemos ser uma grande oportunidade de ter acesso à tratamento médico de qualidade. E mesmo depois da pandemia. A telemedicina vem para ficar”. Suruí ainda esclarece que em sua aldeia a conexão com a internet é até boa, mas sabe que outras aldeias terão problemas. Segundo ele, o importante é começar o processo e ir aperfeiçoando aos poucos. “O que não pode é deixar as aldeias sem nenhum atendimento médico”, diz.
Esse é o primeiro passo para implementar a melhoria e aprimoramento do atendimento médico, oferecendo acesso a medicina de qualidade de maneira democrática e inclusiva, respeitando as particularidades de uma população tão plural como a do Brasil, evitando que populações que vivem em áreas remotas e de difícil acesso precisem realizar deslocamentos desnecessários para ter acesso a centros médicos.
Caio Machado explica que o projeto vai começar com atendimento ao povo Surui, localizado em Rondônia e que conta com 1.500 indígenas distribuídos em 28 aldeias. Para ele, o futuro aponta que mesmo após a pandemia, o atendimento às comunidades indígenas será mesclado: atendimento presencial associado as facilidades da teleconsulta. “Cuidar dos povos indígenas, que são a origem de nosso povo, é o mesmo que cuidar da história de nosso país”, conclui o dentista.
Médicos voluntários interessados em fazer parte da equipe de teleatendimento da ONG Doutores da Amazônia, podem se cadastrar pelo site.
Sobre a Ong Doutores da Amazônia - https://www.doutoresdaamazonia.org.br/
A Organização não governamental (ONG) Doutores da Amazônia já atendeu mais de 6 mil índios na Amazônia Legal, realizando cerca de 20 mil procedimentos odontológicos e médicos. Agora, acaba de conseguir doação a doação de 17 mil máscaras, 1.500 frascos de álcool em gel 11.500 kits de higiene para indígenas de Rondônia se protegerem do novo coronavírus. A ONG é conhecida em Rondônia como Doutores sem Fronteiras e mudou recentemente o nome para Doutores da Amazônia. Os voluntários já ajudaram mais de 40 etnias indígenas e comunidades do Amazonas, Rondônia e Mato Grosso.